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FUNÇÕES NORMAIS DO PERICÁRDIO
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O pericárdio normal é um saco de camada dupla do pericárdio visceral e pericárdio parietal. O pericárdio visceral consiste em uma membrana serosa, separada do pericárdio parietal fibroso por pequena quantidade (15–50 mL) de líquido, um ultrafiltrado de plasma. Ao exercer uma força de restrição, o pericárdio normal previne dilatação súbita das câmaras cardíacas, especialmente átrio e ventrículo direitos, durante o exercício e na presença de hipervolemia. Ele também mantém a posição anatômica do coração e provavelmente retarda a disseminação das infecções provenientes dos pulmões e das cavidades pleurais para o coração. Todavia, a ausência total do pericárdio, congênita ou causada por cirurgia, não causa doença clínica óbvia. Nos defeitos parciais do pericárdio esquerdo, a artéria pulmonar principal e o átrio esquerdo podem abaular-se através do defeito; em casos muito raros, a herniação e o subsequente estrangulamento do átrio esquerdo podem causar morte súbita.
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A pericardite aguda, de longe o processo patológico mais comum envolvendo o pericárdio (Tab. 270–1), possui quatro aspectos diagnósticos principais:
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A dor torácica geralmente está presente na pericardite infecciosa aguda e em muitas formas presumidas como estando relacionadas à hipersensibilidade, à autoimunidade ou de causa desconhecida (idiopática). A dor da pericardite aguda com frequência é intensa, tem localização retroesternal e/ou precordial esquerda, sendo referida para pescoço, braços ou ombro esquerdo. Frequentemente a dor é pleurítica em consequência da inflamação pleural associada (i.e., aguda e agravada por inspiração e tosse), mas, às vezes, é contínua, com irradiação para a borda do trapézio ou para um dos braços e assemelha-se à isquemia miocárdica. Por esse motivo, é comum ser confundida com o infarto agudo do miocárdio (IAM). Caracteristicamente, a dor pericárdica pode ser intensificada pela posição supina e aliviada quando o paciente fica sentado e inclinado para a frente (Cap. 14). Muitas vezes, há ausência de dor na pericardite de desenvolvimento lento tuberculosa, pós-irradiação, neoplásica e urêmica.
A diferenciação entre IAM e pericardite aguda torna-se mais difícil quando, na pericardite aguda, há elevações séricas dos marcadores bioquímicos de lesão miocárdica, como a creatina-cinase-MB e a troponina, provavelmente porque também ocorre o comprometimento concomitante do epicárdio no processo inflamatório (epimiocardite) com a consequente necrose de miócitos. Contudo, essas elevações, se ocorrerem, serão bastante modestas se comparadas com as do IAM, dada a extensa elevação do segmento ST no eletrocardiograma na pericardite. Essa dissociação é útil na diferenciação entre essas condições.
Um ruído de atrito pericárdico é audível em algum momento da doença em cerca de 85% dos casos de pericardite aguda. O ruído de atrito tem até três componentes por ciclo cardíaco e é descrito como áspero, como uma fricção ou raspagem e rude (Cap. 239); geralmente é mais audível no final da expiração, com o paciente ereto e inclinado para a frente.
O eletrocardiograma (ECG) na pericardite aguda sem derrame volumoso geralmente mostra alterações ...