O termo metabolismo deriva do grego metabol, que significa “mudança”. O metabolismo inclui um amplo conjunto de vias químicas necessárias para o desenvolvimento normal e a homeostase. Na prática, os médicos em geral empregam o termo metabolismo para se referirem à utilização de energia para o anabolismo ou o catabolismo. Alternativamente, o metabolismo intermediário descreve as numerosas vias celulares que convertem fontes de energia de uma forma em outra (p. ex., ciclo do ácido cítrico). O campo emergente da metabolômica baseia-se na premissa de que a identificação e a medida de produtos metabólicos deverão ampliar nossos conhecimentos de fisiologia e doença. Muitas doenças endócrinas causam perturbações metabólicas, pois as glândulas produzem hormônios que regulam as reações anabólicas e catabólicas. As deficiências hormonais, como o hipotireoidismo (Cap. 383), a doença de Addison (Cap. 386) e o diabetes melito tipo 1 (Cap. 403), reduzem o metabolismo. Por outro lado, os distúrbios por excesso de hormônios, como a síndrome de Cushing (Cap. 386), a acromegalia (Cap. 380) e a doença de Graves (Cap. 384), têm efeitos anabólicos ou aumentam o metabolismo. Estes e outros distúrbios endócrinos têm manifestações clínicas características que podem ser detectadas com base na história e exame físico do paciente, além das mensurações dos níveis hormonais.
Ao longo dos anos, a classificação das doenças endócrinas e metabólicas ultrapassou as vias tradicionais envolvidas no metabolismo energético para incluir distúrbios como as doenças de depósito lisossômico ou as doenças do tecido conectivo. Assim, as doenças metabólicas na realidade refletem distúrbios da biologia celular, e muitas delas têm uma base genética bem definida. Por exemplo, as doenças do armazenamento lisossomal (Cap. 418) resultam de uma variedade de defeitos genéticos, em geral em uma enzima lisossômica, provocando acúmulo de substrato no interior do lisossomo. Certas lipodistrofias e miocardiopatias podem ser causadas por mutações da lamina A, uma proteína estrutural encontrada no envelope nuclear. Os defeitos de membrana (Cap. 421), que costumam envolver transportadores de aminoácidos, açúcares ou íons, causam distúrbios como a cistinúria, a doença de Hartnup ou a doença de Wilson (Cap. 415). As doenças do tecido conectivo (Cap. 413) com frequência envolvem defeitos na síntese ou na estrutura do colágeno (osteogênese imperfeita, síndrome de Ehlers-Danlos, síndrome de Alport) ou em outras proteínas estruturais da matriz extracelular, como a fibrilina (síndrome de Marfan). Muitos distúrbios metabólicos originam-se de defeitos em enzimas envolvidas na síntese ou na degradação de aminoácidos, carboidratos, lipídeos, purinas ou pirimidinas (Caps. 417, 419 e 420). Os distúrbios das lipoproteínas (Cap. 407) são causados por defeitos em uma ampla gama de vias celulares, incluindo receptores de membrana (o receptor da lipoproteína de baixa densidade), defeitos enzimáticos (lipoproteína lipase), proteínas de transporte (apolipoproteína B100) ou transportadores (transportador com cassete de ligação ao trifosfato de adenosina [ATP] ABCA1). Em alguns casos, as anormalidades metabólicas induzem respostas fisiológicas compensatórias que refletem as interações de múltiplas vias metabólicas. Por exemplo, a síndrome metabólica (Cap. 408), que inclui uma série de achados clínicos (obesidade central, hipertrigliceridemia, nível reduzido de colesterol de lipoproteína de alta densidade, hiperglicemia e hipertensão), provavelmente tem múltiplas origens genéticas e ambientais. A síndrome de Cushing reflete os efeitos metabólicos do excesso de cortisol sobre múltiplos tecidos (Cap. 386).
Essa definição mais ampla resulta em um número excessivo de doenças metabólicas, que atinge a casa dos milhares. Felizmente, existem fontes de referências abrangentes, como Online Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease (OMMBID) (http://www.ommbid.com/) e Online Mendelian Inheritance in Man (OMIM) (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=OMIM). O estudo das doenças metabólicas tem sido de inestimável valor para a compreensão da genética humana, esclarecendo princípios como padrões de herança, expressividade variável, variação fenotípica e novas abordagens de terapia, que incluem programas de rastreamento, transfusão de sangue e transplante de órgãos, terapia gênica e reposição enzimática (Cap. 466).
Este atlas proporciona uma análise visual de distúrbios endócrinos e metabólicos selecionados, com referências aos capítulos onde os assuntos são abordados no texto. O autor incentiva o envio de ilustrações adicionais que possam facilitar a aprendizagem entre nossos colegas, ampliando, assim, a identificação e os cuidados de pacientes com essas doenças.