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A bibliografia brasileira vem se enriquecendo com a recente publicação de livros dedicados a diversos temas de anestesiologia. Esta tendência é salutar e nos oferece a possibilidade de aprendermos em vernáculo, o que facilita a retenção de conceitos e de condutas, técnicas e práticas neles descritas e recomendadas. Embasam-se no equipamento e nos fármacos disponíveis em nosso meio. São autóctones. Representam o sumo do cotidiano exercido por uma plêiade de anestesiologistas, todos ávidos por conhecimentos.
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Este livro é plural. É plural em seu universo de 91 colaboradores e plural na abrangência do temário que bem aborda ao longo de 62 capítulos. E, no entanto, sente-se nele e na convergência das apresentações a singularidade de mão mestra do coordenador incansável e hercúleo em burilar o texto, evitando, na medida do possível, os desencontros que parecem constituir a Hidra de Lerna em obras deste porte.
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Eu venho dos idos em que no Brasil apenas existiam escassos e isolados artigos e um capítulo de anestesia em livro de técnica cirúrgica, todos escritos por cirurgiões. Em 1994, surgiu o primeiro livro publicado no Brasil, Temas de anestesiologia, editado por cirurgião e no qual somente quatro dos vinte capítulos eram escritos pelos percursores anestesiologistas Luiz Rodrigues Alves, Cyro Pinheiro Dória, Mário Ramos da Nóbrega e Reynaldo Figueiredo. Bem posso, então, avaliar a distância que nos separa daquela era pré-histórica da anestesiologia brasileira, que verdadeiramente começa com a fundação da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), em 1948. Por sua vez, pode-se dizer que a literatura anestesiológica brasileira iniciou-se com a fundação da Revista Brasileira de Anestesiologia, em 1950, acolhendo artigos de anestesiologistas, e que desde então não cessou de avolumar-se. Faltavam, no entanto, os livros de texto.
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O aumento quantitativo e qualitativo da SBA e a criação dos seus Centros de Ensino e Treinamento produziram um amadurecimento gradativo que aflora, quase 50 anos após, neste final de século, numa produção saudável e louvável.
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O livro Anestesiologia: princípios e técnicas, organizado por James Manica, insere-se neste florescimento, podendo ser considerado como o primeiro tratado brasileiro de anestesiologia e já, por mérito, em sua 2a edição.
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É grato, pois, apresentar este livro que traz em si o embrião de futuras edições a surgirem no século que desponta, acompanhando a evolução ininterrupta da fascinante especialidade que abraçamos.
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Com certeza os leitores verão seus patamares de aprimoramento elevados. Possivelmente, porém, não se darão conta de quanto esforço inaudito é necessário para coordenar e publicar um livro desta magnitude, quanto esse projeto exige de horas, dias e meses de plena dedicação.
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Esforço do coordenador e dos colaboradores, todos de reconhecida competência nos temas que abordam. Tudo fluindo num conjunto harmonioso e coerente agora à disposição dos colegas de língua portuguesa.
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É natural que um ancião se debruce no passado, já que seu futuro é incerto e obviamente limitado. Por esse motivo, louvo a inclusão de um capítulo de “A história da anestesiologia no Brasil”. A leitura desse capítulo será salutar para que as futuras gerações de anestesiologistas, a quem cabe carregar o facho para o futuro, saibam algo de como foram os primórdios, reflitam a respeito dos problemas enfrentados e das oportunidades ganhas ou perdidas e escorem as vertentes de serenidade de propósitos, de responsabilidade profissional e de respeito aos seus pares e pacientes, alargando destarte os horizontes da anestesiologia no Brasil.
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Se assim procederem, o porvir da anestesiologia brasileira estará garantido com o sólido lastro no passado e bem fundados alicerces no presente, com obras como Anestesiologia: princípios e técnicas.
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Carlos Parsloe
TSA-SBA, FRCA (HON.), FANZCA (HON.)
Maio de 1997