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A desnutrição é uma doença de natureza clínico-social multifatorial, cujas raízes estão relacionadas à pobreza, a processos infecciosos e à baixa ingestão calórico-proteica, sendo um dos mais importantes problemas de saúde pública em países em desenvolvimento. Segundo a OMS, no mundo inteiro, 100 milhões de crianças com menos de cinco anos estão abaixo do peso, e 165 milhões apresentam sinais de nanismo ou atrofia.1 Estatísticas da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) revelam que, a cada ano, mais de 200 mil crianças nas Américas morrem antes dos cinco anos em consequência da desnutrição.2 No Brasil, estudo avaliando crianças hospitalizadas em hospitais universitários e de ensino revelou prevalência em torno de 30%.
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A desnutrição é prevalente e afeta o crescimento e o desenvolvimento das crianças, colaborando, assim, com a morbimortalidade infantil. Entretanto, sabe-se que ela é subdiagnosticada, especialmente devido à falta de procura por esse diagnóstico e às diferentes definições dessa doença multifatorial. Portanto, a avaliação nutricional, e consequentemente o diagnóstico do estado nutricional, é essencial para seu reconhecimento. A classificação da desnutrição, segundo o Ministério da Saúde,3 é apresentada na Tabela 112–1.
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A desnutrição primária está associada à interrupção precoce do aleitamento materno, à introdução inadequada da alimentação complementar, à privação alimentar, tanto em quantidade como em qualidade, à ocorrência de episódios repetidos de doenças infecciosas e ao fraco vínculo mãe-filho. A desnutrição secundária pode ocorrer devido ao inadequado aproveitamento funcional e biológico dos nutrientes disponíveis e/ou à elevação do gasto energético associado a doença aguda ou crônica. De maneira geral, ocorre alteração do balanço entre necessidade energética e consumo, refletindo em um déficit de energia e baixo consumo proteico e de micronutrientes, que pode afetar negativamente o crescimento e o desenvolvimento dessa população.
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No hospital, esse desbalanço também pode acontecer independentemente de um quadro prévio de desnutrição. Por isso, é de fundamental importância a avaliação do estado nutricional das crianças no momento da internação hospitalar, visto que a desnutrição preexistente pode prolongar a internação, aumentar a incidência de infecções hospitalares e elevar o risco e a taxa de mortalidade.
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Para o atendimento adequado da criança com desnutrição em nível hospitalar, é necessária avaliação conforme sugerido na Figura 112–1.
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