Caso clínico
Beatriz, 3 anos, é trazida à consulta de puericultura. Ao consultar o prontuário da criança, a médica de família e comunidade repara em um alerta que tinha feito quando a menina estava com 2 anos: “estar atenta à linguagem – grande imaturidade”.
Beatriz nasceu de parto eutócico, com 39 semanas de gestação e com Apgar de 9 a 10. A gravidez foi acompanhada e não apresentou qualquer intercorrência.
É a segunda e última filha de um casal saudável, tendo o seu irmão mais velho 14 anos.
Beatriz não frequenta creche, nem costuma ter contato com outras crianças. Encontra-se em casa com a mãe, que está desempregada.
Ao longo da consulta, a médica de família e comunidade nota que Beatriz vocaliza, mas sem ter qualquer palavra inteligível e sem intenção de interação. Anda de um lado para o outro, mexendo em tudo, mas não permanece brincando por mais de um minuto.
Ao questionar a mãe, ela diz que em casa é igual. Ela não para e não vocaliza corretamente as palavras, mas percebe tudo o que lhe dizem. O que mais gosta de fazer é assistir à televisão, desenhar e montar quebra-cabeça. Uma vez contrariada, reage muito negativamente com birras e comportamentos muito impulsivos, chegando a se atirar no chão no meio da rua. Quando sai com a mãe, nunca quer lhe dar a mão, não responde ao seu chamamento e, muitas vezes, corre para o meio da rua. Em termos de autonomia, Beatriz come sozinha com colher e garfo, despe algumas peças de roupa e vai ao banheiro, e, por sua iniciativa, usa fralda apenas à noite para dormir. No entanto, quando sai à rua, urina na roupa usando, por isso, fralda nessas ocasiões.
Ao exame físico, não há qualquer alteração na observação da Beatriz, sendo que a menina cumpre ordens simples, evita o contato e não procura se comunicar, sendo, no entanto, a sua linguagem completamente incompreensível.
O desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) não termina na altura do parto. Ele perpetua-se até cerca dos três primeiros anos de vida, mas as diferentes competências a ele intrínsecas são ...