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Aspectos-chave
As dificuldades escolares apresentadas pelas crianças no seu processo de escolarização não são problemas de natureza médica.
A visão medicalizante transforma questões sociais, como o fracasso escolar, em problemas de saúde.
A grande maioria das crianças que fracassa na escola é proveniente das famílias de renda mais baixa.
A abordagem da criança com queixa de dificuldades escolares deve ser ampliada, incorporando-se o modelo biopsicossocial.
O médico de família e comunidade pode fazer a avaliação da criança sem obrigatoriamente referenciar para testes de desenvolvimento.
Na abordagem da criança com dificuldades escolares, é importante analisar o histórico escolar, o contexto de vida e as atitudes da escola em relação ao aprendizado da criança.
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Caso clínico
Rodrigo, 9 anos, vem à consulta com sua mãe, Regina, encaminhado pela escola porque não consegue aprender. Traz uma carta da professora, que orienta a mãe a procurar um médico para dar um laudo que justifique o fato de ele não aprender. A mãe está muito aflita, porque ouviu a professora dizer que ele pode ter um retardo mental leve.
Regina cursou apenas 3 anos do ensino fundamental e é dona de casa. O pai de Rodrigo tem o ensino fundamental completo e trabalha como ajudante em uma empresa. Além do Rodrigo, o casal tem uma filha de 3 anos e um bebê de 10 meses.
Rodrigo é um menino tranquilo, que ajuda muito em casa. Ele vai na padaria e na vendinha fazer algumas compras que a mãe pede. Gosta de ficar jogando no celular e joga videogame com os amigos. Tem amigos na rua com quem joga futebol. Regina acha que ele é muito esperto e sabe tudo sobre o time que torce. Rodrigo diz que gosta de ir à escola só por causa dos amigos, reclama que a professora não ensina nada para ele.
A avaliação mostrou que ele não tinha problemas motores ou cognitivos, apresentando bom desenvolvimento. Escreveu seu nome de forma silábica, uma letra para cada som: OIO. Consegue fazer contas simples. Contou que na classe tem mais seis crianças que estão como ele, elas ainda não sabem ler nem escrever.
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Atualmente, é muito comum o encaminhamento de crianças com queixa de que não aprendem na escola para os serviços de saúde, com o objetivo de que seja encontrado algum distúrbio, doença ou deficiência que justifique essa dificuldade. A literatura médica enfatiza as causas orgânicas como responsáveis pelos problemas no aprendizado, reduzindo, assim, o aprendizado a uma questão biológica e, portanto, a um problema individual do aluno. Essa concepção parte do pressuposto de que é necessário ter crianças sadias para ter alunos inteligentes, que possam ter bom aprendizado. No dizer de uma diretora de escola para a autora: “A escola oferece as oportunidades de aprendizado, o aluno que não aprende deve ter alguma deficiência”. É interessante que as mães costumam dizer que essas crianças que não conseguem ...