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ASPECTOS-CHAVE

Aspectos-chave

  • A desprescrição é definida como a retirada de um medicamento inadequado ou como o processo de análise da medicação para mostrar e resolver o paradoxo por trás do regime terapêutico.

  • A desprescrição se depara com fatores que a dificultam (barreiras) e que a favorecem (facilitadores). Tais fatores são determinados pelo sistema sanitário: o médico, o paciente e a relação entre ambos.

  • Os estudos de intervenção revelam que a desprescrição reduz a terapêutica inadequada e o nível de polimedicação, embora não se possa demonstrar com clareza que isso se traduz em resultados clinicamente relevantes.

  • O médico de família e comunidade ocupa um papel central para desprescrever medicamentos de forma segura e correta.

Caso clínico

Sra. Adela, 85 anos, é hipertensa, tem diabetes melito tipo 2 (DM2), hiperlipemia e doença diverticular de cólon. Não apresenta cardiopatia isquêmica nem doença cerebrovascular. Apresenta demência degenerativa primária tipo Alzheimer em fase muito avançada (GDS 7), com problemas de deglutição e incontinência fecourinária. Ela pesa 40 kg. Vive com sua filha, que mensura a sua pressão arterial (PA) (registros médios de 100/60 mmHg) e a glicemia capilar (com médias que não superam os 80 mg/dL) todos os dias. A última hemoglobina (Hb) glicada é de 6,2%. Seu tratamento farmacológico atual inclui sinvastatina, 10 mg, plantago ovata, insulina glargina, trazodona, 100 mg, a cada 12 horas, mirtazapina, 15 mg, vidagliptina, 50 mg, a cada 12 horas, furosemida 40 mg, pela manhã, e diazepam, 5 mg, à noite. A filha da Sra. Adela vem à consulta junto para nos pedir que seja solicitada uma análise da hipercolesterolemia, para controle.

DO QUE SE TRATA

Polimedicação

Para falar de desprescrição é necessário, em primeiro lugar, desenvolver conceitos como o da polimedicação. Estudada em função de aspectos quantitativos e qualitativos, em relação aos primeiros, a polimedicação é definida como o emprego de cinco ou mais fármacos de uso crônico por um paciente determinado; no aspecto qualitativo, analisa-se uso de ao menos um medicamento considerado inadequado.1 Os perfis associados a ambos os tipos de polimedicação estão condicionados, em geral, pela expectativa de vida reduzida, pela baixa adesão terapêutica e pela alta possibilidade de interações farmacológicas e de efeitos adversos. Nesse sentido, as condições de vida e as expectativas dos próprios pacientes têm papel fundamental.

Em relação a esse fenômeno, o caso do Brasil não é alheio a essa tendência mundial, provavelmente favorecida por dois elementos essenciais: o primeiro tem a ver com o envelhecimento da população; e o segundo, com o aumento na incidência de doenças crônicas. As mudanças demográficas no Brasil foram aceleradas nas últimas duas décadas, com decréscimo progressivo na taxa de natalidade e taxas de mortalidade estáveis, que condicionam o aumento na proporção de indivíduos adultos de ambos os sexos (Figura 109.1).2

Figura 109.1

Mudanças demográficas no Brasil nos últimos anos e sua projeção ...

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