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Aspectos-chave
A espiritualidade tem impacto em termos de saúde biológica, emocional e social. Há associação entre crenças religiosas com proteção da saúde mental, qualidade de vida e controle de sintomas, além de redução da mortalidade global e cardiovascular.
As pessoas desejam, em frequências diferentes, conforme o contexto e a gravidade de seu estado, que os profissionais de saúde abram espaço para serem conhecidas também em sua dimensão espiritual e/ou religiosa.
A abordagem da espiritualidade na prática clínica de médicos de família e comunidade ainda é um desafio. A literatura enumera várias barreiras para a abordagem da espiritualidade do paciente, tais como a falta de treinamento, o tempo ou conhecimento sobre o assunto ou, ainda, seus próprios valores pessoais, medo de conflitar com os da pessoa e/ou família ou considerar que abordar a espiritualidade não é papel do profissional de saúde.
O conhecimento das habilidades de comunicação, aliado à prática clínica centrada na pessoa podem ser ferramentas potentes para auxiliar o médico de família e comunidade no exercício da abordagem clínica da dimensão religiosa-espiritual da pessoa.
O médico de família e comunidade pode contribuir para a construção de resiliência de pessoas, de famílias e de comunidades, à medida que aborde o processo de saúde-adoecimento de modo integral, auxiliando na valorização de estratégias de superação ou na ressignificação de agentes estressores que produzam sofrimento ou desequilíbrio.
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Caso clínico 1
Nivaldo, 48 anos, tem tratamento medicamentoso para transtorno de pânico há 2 anos e vinha assintomático desde então. Vem para a consulta relatando sensação de “pressão no peito”, angústia e “fôlego curto” há cerca de 3 semanas. Os episódios são leves e autolimitados, mas recorrentes. Ao ser questionado sobre suas ideias e sentimentos, Nivaldo afirma perceber que as crises são semelhantes ao seu quadro prévio, mas tem medo de ter alguma doença. Durante as crises, sente que vai morrer e isso aumenta sua ansiedade, pois tem muito medo de ir para o inferno. A mãe de Nivaldo sempre o educou na Igreja Universal e ele considera que a Igreja o auxilia em sua fé e ligação com Deus. Contudo, há alguns meses, não está frequentando a Igreja, o que, em sua linguagem, seria “desviar-se da obra de Deus” e poderia fazer com que ele fosse para o inferno em caso de morte.
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Caso clínico 2: um olhar sobre a prática clínica
“Sabíamos que esse momento iria chegar, mas nunca estamos realmente preparados”, nos diz Teresa, cuidadora de Cláudio, com os olhos marejados pelas lágrimas que ansiosamente tentam não cair. Derramar suas lágrimas poderia demonstrar que ela achava que era o fim… Que Cláudio não acordaria mais. Ele era portador de demência e, há anos, voltara a morar com a ex-esposa. Separados pelo etilismo, mas reunidos pelo amor, Teresa contava com o apoio da equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) para manejar os sintomas de Cláudio, a fim de ...