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Aspectos-chave
A maioria das pessoas experimenta pelo menos um sintoma a cada 2 semanas e não considera consultar um profissional de saúde devido aos sintomas. Apenas uma minoria das pessoas que experimentam um sintoma consulta um profissional de saúde, sendo que a maioria dos sintomas não é explicada pela doença. Assim, grande parte dos sintomas é formada por “sintomas inexplicados”.
As pessoas que frequentemente consultam um médico de família e comunidade com sintomas inexplicados não são diferentes das que consultam por sintomas explicados: elas não costumam solicitar mais intervenções médicas (como solicitações de exames de sangue), referenciamentos ou prescrições; elas não solicitam com mais frequência explicações sobre seus sintomas nem tranquilização, mas fornecem a mesma quantidade de indicativos psicossociais que as pessoas com sintomas clinicamente explicados. A diferença é que elas desejam obter mais empatia do médico.
Médicos de família e comunidade têm pressupostos que implicam desvantagens no manejo de pessoas com sintomas inexplicados: em geral são céticos em relação a elas, pois consideram a frequente apresentação de sintomas inexplicados como a manifestação de um problema psicológico ou psiquiátrico. Eles consideram que os sintomas inexplicados não são o problema real, o que não lhes retira a capacidade para o manejo desses pacientes.
Nas consultas de pacientes com sintomas inexplicados, os médicos solicitam mais intervenções do que as que o paciente requisita. Além dos custos financeiros extras, isso traz o risco de resultados falso-positivos, levando o paciente a uma preocupação desnecessária.
Para o adequado tratamento de pessoas com sintomas inexplicados, é fundamental que a comunicação do médico seja mais centrada no paciente, ou seja, mais dirigida para a revelação de suas crenças, suas preocupações e necessidades, além de mais focada na explicação dos sintomas ao paciente. Os tratamentos especializados, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) ou a terapia farmacológica, são necessários apenas em uma minoria dos casos.
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Caso clínico
Uma mulher bastante ativa de 79 anos consulta o clínico geral com fadiga e palpitações. Ela está preocupada com as palpitações, que costumam iniciar quando ela usa o aspirador de pó. Após realizar a anamnese e o exame físico, o médico decide solicitar um eletrocardiograma e exames de sangue para excluir algum problema cardíaco ou hipertireoidismo. Ambos os testes são normais. Nas consultas de seguimento, a paciente comenta repetidas vezes sobre suas palpitações. Ela pergunta se o problema tem alguma relação com a sua tireoide. O médico responde que realizou exames da glândula e que ela está bem. A paciente parece aceitar isso e diz: “Bem, doutor, tudo depende de como a vida é vivida”. O médico responde: “O que você quer dizer com isso?”. E a mulher fala, então, sobre uma história importante em sua vida. Ela conta sobre ter ido para um convento com 16 anos de idade e sobre os momentos ruins pelos quais passou ali. A madre superiora atribuía a ela todas as tarefas desagradáveis e a rebaixava à condição de faxineira. Ela sofria bullying por parte ...