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Aspectos-chave
“Mercantilização da doença” (do inglês disease mongering) é a “comercialização da doença que amplia os limites da enfermidade e aumenta os lucros para aqueles que vendem e entregam tratamentos”.1
O processo de mercantilização da doença pode envolver novas definições de situações prévias ou a transformação de situações fisiológicas em “problemas de saúde”.
É possível descrever um passo a passo, que vai da pesquisa científica até a divulgação também “científica” do problema nos meios de comunicação.
Alguns exemplos são osteoporose, disfunção erétil, transtorno do interesse/excitação sexual feminino, calvície, síndrome do intestino irritável (SII) e transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH).
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“É um ótimo negócio convencer as pessoas sadias de que elas estão doentes, e convencer as pessoas levemente doentes de que estão muito doentes”, escreveu a jornalista Lynn Payer ao utilizar o termo disease mongering.2
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Disease mongering é o conjunto de atividades médicas que têm por objetivo a mercantilização da doença no sentido de fazer negócios e de obter benefícios, fomentando a consciência de sofrimento em circunstâncias que antes eram consideradas normais. A mercantilização da doença converte os sãos em doentes, dilapida uma imensa quantidade de recursos e causa iatrogenia sem beneficios,1,3 fazendo parte de um processo de medicalização da sociedade.4
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Historicamente, disease mongering se refere ao aparecimento de alguns fenômenos da comercialização de elixires e seus propagadores desde o século XVII. Assim, havia os patent medicines, ou nostrum remedium, e os nostrum mongers.
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Patent medicines, ou remédios de venda livre, se referia a elixires supostamente curativos que começaram a surgir no século XVII. Esses produtos recebiam a simpatia da nobreza e obtinham uma “Carta Patente”, que era uma autorização do Rei para serem comercializados. Eram comumente denominados “nosso remédio”, ou nostrum remedium, em latim.5
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O termo mongers, em inglês, significa corretor, comerciante, disseminador, negociante; uma pessoa que tenta especular ou promover algo que é vil, ou desonroso. É, em geral, utilizado de forma composta, sendo que, no início, era usado junto com o termo nostrum. Em 1847, W. Beach, médico americano, publicou a 10a edição do The american practice condensed or the family physician. Nesse tratado, encontra-se a definição de nostrum mongers:6
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Uma classe de pessoas que negocia remédios inventados, sem habilidade ou ciência, para ganhar dinheiro através do convencimento de ignorantes e crédulos. Essas preparações são ostensivamente vendidas para a cura de todas as doenças “de que a carne é herdeira” e são validados por certificados verdadeiros ou falsos. O público foi, e ainda é, muito enganado por esses charlatões e impostores. Parece que gostam de ser enganados e, assim, são tão responsáveis quanto os nostrum mongers. Os compostos mais inúteis são propagandeados e muito vendidos. Bem pode um escritor dizer sobre a credulidade da ...