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Aspectos-chave
O desafio contraintuitivo do sobrediagnóstico (diagnóstico desnecessário) está sendo reconhecido como uma ameaça à saúde humana e à sustentabilidade do sistema de saúde em muitos países.
As muitas causas do problema incluem tecnologias diagnósticas mais sensíveis, programas de rastreamento que têm como alvo as pessoas saudáveis, interesses comerciais e profissionais, além de definições cada vez mais amplas para as doenças.
Os exemplos de condições em que o sobrediagnóstico é considerado incluem: câncer de tireoide, câncer de mama, câncer de próstata, doença renal crônica (DRC) e embolia pulmonar (EP).
Muitas organizações ao redor do mundo estão começando a responder ao problema do sobrediagnóstico (e consequente sobretratamento) com muitas iniciativas novas, incluindo as conferências científicas internacionais “Preventing Overdiagnosis”.
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Com a sua celebrada capacidade de ajudar as pessoas doentes, a medicina está cada vez mais sendo questionada em relação à sua propensão de causar danos às pessoas saudáveis. Atualmente, há estimativas concretas de que, em alguns países, talvez um quinto dos gastos em cuidados de saúde sejam desperdiçados em intervenções desnecessárias que trazem contribuições inexpressivas para a saúde, além de, muitas vezes, causarem danos. Como parte dessa preocupação e das evidências globais mais amplas em relação aos excessos da medicina, o problema chamado “sobrediagnóstico” foi reconhecido como causador de danos em muitas pessoas, aumentando o desperdício que ameaça a própria sustentabilidade dos sistemas de saúde.
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Existe um debate continuado sobre a melhor definição para sobrediagnóstico. De maneira mais estrita, o sobrediagnóstico ocorre quando as pessoas são diagnosticadas com uma doença que, na verdade, nunca causaria dano a elas. Isso em geral acontece como resultado de exames diagnósticos ou programas de rastreamento que podem detectar doenças não progressivas, como os cânceres indolentes. De maneira mais ampla, o sobrediagnóstico acontece quando definições cada vez mais amplas para as doenças rotulam um número cada vez maior de pessoas com sintomas mais leves ou com menor risco, para as quais um rótulo e um tratamento podem trazer mais prejuízos do que benefícios.
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Este capítulo pretende: introduzir o conceito de sobrediagnóstico; discutir a sua definição; oferecer vários exemplos; examinar as causas desse problema no sistema de saúde; e concluir com uma breve discussão sobre as iniciativas ao redor do mundo que tentam abordar e evitar o problema.
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O sobrediagnóstico pode ser compreendido como parte de um contexto mais amplo de preocupações históricas e contemporâneas em relação ao problema dos excessos da medicina. Desde a Grécia Antiga, muitas pessoas, ao longo dos séculos, salientaram a importância de se evitar danos ao tentar a cura. Essa preocupação ficou muito conhecida na voz do pensador dissidente Ivan Illich, há quase 50 anos, em seus argumentos eloquentes e controversos sobre como o sistema de saúde dominante cada vez mais poderoso estava criando uma perigosa medicalização da vida.1
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Apesar dos problemas bastante reais da subutilização do sistema de ...