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Aspectos-chave
Abordar a polifarmácia deve considerar dois aspectos: em primeiro lugar, compreender suas origens e desencadeantes ao nível da população, das políticas e dos profissionais; em segundo lugar, desenvolver uma abordagem minimamente disruptiva para os cuidados clínicos da pessoa.
Apesar de a idade avançada ser um fator de risco para comorbidades, é importante lembrar que uma pessoa jovem com múltiplas doenças também pode sofrer com os efeitos prejudiciais da polifarmácia.
As pessoas que retornam para a atenção primária após uma hospitalização também são mais vulneráveis, com frequência tendo alta com mais medicamentos indicados do que usavam antes da internação.
O manejo ativo da polifarmácia traz benefícios de saúde globais em populações idosas.
A qualidade dos cuidados de saúde, na próxima década, será determinada mais pelas decisões de não administrar ou de suspender medicamentos e por um pensamento mais abrangente do que pela crença de que um bom cuidado envolve necessariamente o uso de um medicamento.
O principal a fazer é pensar sobre e revisar as medicações utilizadas com regularidade, sob o ponto de vista explícito de minimizar seu número, suspendendo o máximo que for possível (e, quando não for, é importante tentar reduzir a dose).
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O PESO DA POLIFARMÁCIA
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É uma arte importante administrar medicamentos de forma adequada, mas saber quando suspendê-los ou omiti-los por completo é uma arte ainda maior e mais difícil de aprender.
Philippe Pinel (1745–1826)
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Em países desenvolvidos, o uso excessivo de medicamentos é a maior ameaça à saúde das populações mais idosas com morbidade crescente – provavelmente mais ameaçador do que as doenças para as quais os fármacos são prescritos. A polifarmácia causa aumento da mortalidade e também está associada a uma pior qualidade de vida, além de efeitos negativos específicos sobre a função, incluindo piora da mobilidade, cognição e nutrição, além de quedas e fadiga.1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12 Os regimes complicados de medicamentos costumam exceder a capacidade de manejo do paciente, reduzindo a adesão, especialmente nas pessoas mais velhas.13 Não se sabe em que nível esses efeitos negativos da polifarmácia são reversíveis com a redução da carga de medicamentos, de modo que é tão importante exercitar a restrição ao prescrever medicamentos como focar na suspensão adequada durante a vida do paciente. O consumo excessivo de medicamentos, em especial os preventivos nos países desenvolvidos, também é um poderoso gerador de desigualdades na saúde global, sendo muito mais lucrativos o desenvolvimento e a venda de medicamentos aos ricos e saudáveis do que aos pobres e doentes.14 Isso também representa uma ameaça à igualdade dentro dos países, pois a comorbidade e, assim, a vulnerabilidade aos efeitos prejudiciais da polifarmácia são mais comuns em grupos de menor poder socioeconômico.15
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A velhice é um período de risco farmacológico para as pessoas. O sofrimento advém ...