++
Aspectos-chave
O “médico como droga” é a categoria fundamental da teoria da relação médico-pessoa descrita por Michael Balint.
Atualmente, pode-se observar que não só o médico tem função “droga”, mas também os outros profissionais da equipe de saúde.
A participação nos grupos Balint permitiu que os médicos percebessem os sinais de alerta presentes nos casos relatados e seus mecanismos de defesa, possibilitando a aquisição de autoconhecimento sobre as próprias reações emocionais.
Na atenção primária à saúde (APS), a discussão dos casos atendidos pelas equipes durante um grupo Balint permite a circulação de emoções, dúvidas, questionamentos, decisões, responsabilidades e tantas outras possibilidades, o que ajuda o grupo a reconhecer-se como uma equipe e assumir de forma democrática seu trabalho, desenvolvendo uma verdadeira gestão compartilhada.
+
Fica de novo em silêncio. Parece entender que sua tonteira não é propriamente uma doença a ser tratada com remédios. Era fome mesmo. Mas não para por aí. Tem mais uma pergunta a fazer:
– O senhor acha que ela, a menina, tem cura, doutor?
(Daniel Emídio de Sousa – Mais uns poucos casos: anotações de um plantonista)
++
A relação médico-pessoa é indubitavelmente a essência do atendimento médico. Assim também, a relação entre qualquer profissional de saúde (enfermeiro, dentista, farmacêutico, técnico de enfermagem ou agente comunitário de saúde) e as pessoas usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) torna-se o principal pilar do cuidado a ser dispensado dentro da lógica da Estratégia de Saúde da Família (ESF).
++
Estudar, aprender, pesquisar e compreender a relação que ocorre entre o profissional e a pessoa em um encontro clínico passa a ser importante para uma melhor abordagem da pessoa e de seu processo de adoecimento, para a proteção do profissional (medicina defensiva), bem como para a satisfação da equipe, o que, em última análise, é um elemento protetor na prevenção da síndrome de burnout.1
++
É importante pensar que a boa relação profissional-pessoa usuária do SUS não é apenas uma questão de festas, balões coloridos, animação da equipe ou quaisquer outras manifestações baseadas no senso comum. Assim como a tomada de decisão terapêutica deve ser estruturada na medicina baseada em evidências, procurando-se pensar o diagnóstico dentro das doenças mais prevalentes com ênfase nos determinantes de saúde, também a relação profissional-pessoa deve ser pensada sobre bases epistemológicas sólidas, no sentido de se construir uma relação terapêutica e benéfica para ambas as partes envolvidas.
++
Muitas são as teorias que ajudam a pensar a relação clínica, mas a teoria Balint é a única até os dias atuais que se debruça sobre a relação médico-pessoa. Essa teoria, voltada primordialmente para os médicos de família e comunidade, tem sido ampliada no sentido de contemplar a equipe multiprofissional envolvida com a APS da população.
++
Michael Balint, médico e psicanalista húngaro, filho de um médico de família em Budapeste, nasceu em 1896 e faleceu em 1970. Na década de 1950, ...