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Aspectos-chave
A frequência com que as pessoas consultam o médico é um problema quando considerada inadequada.
Lidar com pessoas que consultam com frequência superior ao considerado adequado é um desafio e uma oportunidade para que o médico de família, a comunidade e a equipe de saúde reflitam e melhorem as suas práticas.
Existe incerteza e controvérsia sobre como intervir, para modificar o comportamento de procura inadequada de consultas.
Buscar compreender os fatores associados à procura elevada de consultas e conhecer a comunidade e os seus recursos pode ajudar no encontro de soluções mais efetivas e na medicalização de problemas psicossociais.
O trabalho e a reflexão em equipe multiprofissional ajudam a lidar com muitas destas situações.
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O tema “pessoas que consultam frequentemente” desafia a rever conceitos e preconceitos associados a este fenômeno. Serve também para que médico e equipe de saúde da família se interroguem por que algumas pessoas consultam tantas vezes, exigindo-lhes tanto tempo e atenção? Nessa reflexão, são importantes aspectos como:
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A natureza e a quantidade dos problemas de saúde de cada pessoa.
As suas características pessoais, situações de vida, preocupações e medos.
As características pessoais e as competências clínicas do médico.
O seu estilo de prática e o funcionamento da equipe de saúde.
As competências comunicacionais e relacionais dos profissionais.
Aspectos organizativos da unidade de saúde e do sistema de saúde.
Outros fatores contextuais e sociocomunitários.
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A expressão “pessoas que consultam frequentemente” pode ter várias interpretações. Em geral, refere-se ao número ou à taxa de consultas, comparativamente a um padrão. Por vezes, é usada com significado pejorativo em relação a pessoas que demandam uma quantidade excessiva de consultas e são sentidas pelo profissional como um fardo. Alguns autores assinalam que a proporção dessas pessoas parece estar aumentando.1,2,3
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Francisco, 32 anos, constituição atlética, socorrista profissional, veio à consulta pela 15a vez em 12 meses. Ao mesmo tempo, recorreu 3 vezes a serviços de urgência hospitalar e está sendo acompanhado por um psicólogo e um psiquiatra. Já fez todos os exames possíveis, dada a sua facilidade de aceder aos vários pontos e especialidades do sistema de saúde, mas continua a vir ao seu médico de família e comunidade. Ele próprio admitiu a possibilidade de sofrer de “ansiedade de morte”, mas procura desesperadamente doenças físicas que expliquem os seus diversificados sintomas súbitos e incapacitantes.
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Têm sido propostos critérios quantitativos, como, por exemplo, quando a frequência de consultas vai além do percentil 97 em relação ao padrão de procura, isto é, os 3% de pessoas com maior número de consultas por ano. Outras definições são mais arbitrárias, como, por exemplo, pessoas com mais de 7, 11, 12 ou 20 contatos com o médico por ano.4,5,6,7,8,9,10,11 Devem-se levar em conta também a distribuição etária e por gênero da população ...