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1. SOMOS PRODUTO DA EXPRESSÃO GÊNICA DIFERENCIAL
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Um dos aspectos mais fascinantes da biologia do desenvolvimento dos diferentes seres vivos pluricelulares é quando refletimos que um dia fomos uma única célula e hoje, após sucessivas e sucessivas mitoses, somos organismos multicelulares com células especializadas no cumprimento de determinadas funções. Apesar de nosso corpo ser formado por células com aspectos morfológicos e fisiológicos tão drasticamente diferentes, algo as torna comuns: o fato de compartilharem entre si do mesmo material genético. O código da vida – o DNA – presente nos núcleos de nossas células neuronais, por exemplo, é exatamente o mesmo (caso não exista mutação somática) que o encontrado em uma célula de defesa do nosso sistema imune, como o linfócito. Desse fato, fica evidenciado que, embora essas células compartilhem o mesmo DNA, a expressão dos genes nesses dois espaços é distinta, a fim de atender as funções destinadas a esses dois tipos de células. Da mesma forma, avaliando as transformações sofridas na formação de um organismo complexo a partir de uma única célula – o zigoto – e os processos que ocorrem do nascimento ao envelhecimento, fica claro que o controle genético do desenvolvimento é fundamentalmente uma questão de regulação gênica, não apenas no espaço tridimensional, mas também no tempo.
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Nos últimos anos, os progressos na caracterização dos genes que atuam no desenvolvimento têm sido extraordinários. Alguns estudos demonstraram que um mesmo gene pode participar de diferentes processos durante o desenvolvimento e, em outros casos, genes ou grupos de genes são usados como módulos conservados na criação de formas biológicas diversas. Assim, para entender o espetáculo que está por trás da formação de um organismo, temos de entender quais genes atuam em cada lugar e em cada momento e como se regula a sua expressão.
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2. PASSOS-CHAVE NO DESENVOLVIMENTO DE ORGANISMOS MULTICELULARES
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Independentemente da complexidade de um organismo multicelular, todos os seres vivos de reprodução sexuada compartem de um evento único para a sua formação. Afinal, desde uma formiga até um elefante, todos somos produtos da união dos gametas de nossos progenitores. Esse evento é concretizado pela junção do material genético paterno e materno, o que representa o gatilho para a formação de um novo organismo, ou seja, a fecundação.
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Pela fecundação é criada a primeira das muitas células que formarão os organismos multicelulares: o zigoto. É a partir do zigoto que um organismo multicelular começa a ser estabelecido após sucessivos eventos mitóticos. O conjunto de células formadas, com o tempo, apresentará diferenças marcantes em aspectos morfológicos, assim como nas funções que realizam. Sem dúvida nenhuma, esse é um dos aspectos mais intrigantes do desenvolvimento e tem motivado o seguinte questionamento: quais as redes gênicas implicadas em garantir que um organismo multicelular se forme corretamente a partir de uma única célula? Ao contrário do que pode parecer, a resposta a essa pergunta inicia, na verdade, antes mesmo ...