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1. HISTÓRICO: PRÉ-FORMISMO × EPIGENISMO
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No capítulo anterior, vimos a formação de comunidades celulares provenientes da clivagem do zigoto e que constituem, por assim dizer, a matéria-prima na construção do organismo acabado. Partimos do zigoto. Mas onde estávamos nesse zigoto que fomos, se é que estávamos? Uma teoria que data dos séculos XVII e XVIII, denominada pré-formismo, diz que sim, que estávamos no zigoto em miniatura, pré-formado. Mais ainda, já estávamos, ou no ovócito ou no espermatozoide, visto que não se poderia estar pré-formado nos dois. Com a descoberta da partenogênese, os pré-formistas inclinaram-se pela pré-formação do indivíduo adulto já no óvulo.
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Essa teoria é contraditória à proposta por Wolff,1 para quem não estamos no ovócito, mas surgimos pela interação das partes desse todo em processo de formação. Diríamos hoje que nós somos o resultado da interação dos membros das comunidades celulares originadas pelas clivagens. Essa teoria recebe o nome de epigenismo. Com base nela, diríamos que não fomos ontem o que somos hoje, e hoje não somos o que seremos amanhã, nem depois de amanhã, senão o resultado das interações do ontem e do anteontem. Vê-se que isso, na realidade, não é fazer ciência positiva, mas, talvez, filosofia.
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2. INÍCIO DA CIÊNCIA DA EMBRIOLOGIA
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O desenvolvimento começa com uma célula cujo citoplasma torna-se particionado em muitas células, tendo cada uma delas um destino específico, originando finalmente células diferenciadas com propriedades específicas. Uma das questões básicas e fundamentais na embriologia é saber se podemos mudar o destino de uma célula de sorte que possa desenvolver-se em tecidos diferentes daqueles que ela normalmente se desenvolveria. Se o destino de uma célula pode ser mudado, o desenvolvimento é dito regulativo (ou condicional); caso contrário, diz-se que é autônomo.
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Wilhelm Roux,2 que pode ser considerado o pai da embriologia experimental, com o intuito de provar se o desenvolvimento ocorria em mosaico ou regulativamente, tomou um ovo de rã no estágio de dois blastômeros e queimou um deles com uma agulha histológica incandescente, produzindo, desse modo, a metade de uma nêurula, como se esperaria em uma visão pré-formista. Deve-se notar que os experimentos de Roux são por deficiência, pois ele queima um dos dois blastômeros. Poucos anos mais tarde, Hans Driesch,3 talvez com a intenção de confirmar e estender os resultados de Roux, usou outro animal e também outro método. O animal foi o ouriço-do-mar, e o método foi o isolamento dos dois blastômeros iniciais por meio de um vigoroso “chocalhamento”, ou colocando-os em água marinha desprovida de cálcio. Driesch esperava obter duas metades de larvas pluteus, de acordo com os experimentos de Roux, mas, surpreendentemente, obtém duas larvas pluteus normais, o mesmo acontecendo no estágio de quatro blastômeros. Os experimentos de Driesch, como se vê, contrariam os resultados de Roux, provando que o desenvolvimento é regulativo (Figura 8.1).
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