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O presente Tratado de psiquiatria foi organizado por uma força-tarefa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com a Artmed. Seus organizadores, Antonio Egidio Nardi, Antônio Geraldo da Silva e João Quevedo, são três psiquiatras de escol da ABP. Este é o primeiro grande Tratado da ABP, que fornecerá aos novos e velhos psiquiatras do Brasil conhecimentos para uma boa prática da psiquiatria.
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A minha geração, formada há mais de 50 anos, teve de, por sua conta, buscar em inúmeros tratados o conhecimento da psiquiatria e de sua práxis. Assim, buscamos em Kraepelin, Bleuler, Conrad, Schneider, Henry Ey, Leonhard, Ajuriaguerra, Kolb, Talbot, Nobre de Melo, todos grandes tratadistas, os conhecimentos para pavimentar a nossa prática clínica.
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Passando os olhos por este novo Tratado de psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria, é possível verificar que suas quase mil páginas apresentam uma ampla abordagem da área, passando pelo diagnóstico, a epidemiologia, o tratamento, os exames complementares, a neuroimagem, etc. Tendo em vista a máxima de que quem não conhece a história está fadado a repetir erros, apresenta em seu primeiro capítulo como Kraepelin, que nasceu em 1856, três meses antes de Freud, com a sua notável capacidade de observação clínica, construiu os grandes pilares da psiquiatria que seguimos até hoje.
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O livro mostra, também, a evolução da ABP ao longo dos últimos anos. Aqui estão contempladas suas cinco áreas de atuação, como ética e forense, psiquiatria da infância e adolescência, psicogeriatria, psicoterapia e medicina do sono. Igualmente suas diversas comissões de estudo estão representadas, como as de Emergências, Religiosidade e Espiritualidade, Diagnóstico e Classificação, Sexualidade, Uso de Substâncias, Interconsultas, etc. Como base para pesquisas, temos os capítulos orientados para estatística, genética, instrumentos de avaliação e avaliação neuropsicológica. Os estudos de neuroimagem abrangem conhecimentos recentes das últimas décadas.
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Para a formação de um psiquiatra, Jaspers, em 1913, escreveu seu notável Tratado de psicopatologia geral, em que, baseando-se na fenomenologia, mostrou a importância de sempre observar os sintomas que o paciente apresenta, fenomenologicamente, sem preconceitos, de forma sistemática, e o Tratado da ABP não esqueceu desse fato.
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Finalmente, este Tratado contempla tudo o que a ABP vem fazendo em campanhas contra a psicofobia e o estigma nos transtornos mentais. Enfim, em um resumo, traz um conhecimento sólido, adquirido pela psiquiatria brasileira, que contribuirá, de forma decisiva, para a formação dos novos psiquiatras, bem como para a atualização dos demais. A psiquiatria, a assistência psiquiátrica, os psiquiatras e os pacientes agradecem.
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ITIRO SHIRAKAWA
Professor titular, Doutor em Psiquiatria e Professor Emérito pela Unifesp – Escola Paulista de Medicina