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TÉCNICAS ESPECIAIS UTILIZADAS NO EXAME CLÍNICO
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Uso de lentes de aumento manuais. para exame das lesões e verificação de detalhes morfológicos, é necessário utilizar lente de aumento (lente manual) (7×) ou microscópio binocular (5× a 40×). O aumento é especialmente útil no diagnóstico de lúpus eritematoso (tampão folicular), líquen plano (estrias de Wickham), carcinoma basocelular (translucência e telangiectasia) e melanoma (alterações sutis na cor, especialmente cinza ou azul); a visualização melhora após a aplicação de uma gota de óleo mineral. O uso de dermatoscópio será discutido adiante (ver “Dermatoscopia”).
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A iluminação oblíqua da lesão cutânea, realizada em sala escura, frequentemente é necessária para a detecção de pequenos graus de elevação ou de depressão, sendo útil na visualização da configuração superficial da lesão e para estimar a extensão da erupção.
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A iluminação indireta na sala de exame aumenta o contraste entre as lesões hipopigmentadas e hiperpigmentadas circunscritas e a pele normal.
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A lâmpada de Wood (luz “negra” ultravioleta com comprimento de onda longo) é um recurso valioso para o diagnóstico de algumas doenças de pele e dos cabelos e da porfiria. Com a lâmpada de Wood (365 nm), pigmentos fluorescentes e diferenças sutis na cor do pigmento da melanina podem ser visualizados. A lâmpada de Wood também auxilia a estimar a variação na tonalidade das lesões em comparação com a pele normal em indivíduos com pele clara ou escura; por exemplo, as lesões vistas na esclerose tuberosa e na pitiríase vesicolor são hipomelanóticas, mas não tão brancas quanto as lesões do vitiligo, amelanóticas. A hipermelanose circunscrita, como as efélides e o melasma, é muito mais evidente (escura) quando examinada sob a lâmpada de Wood. Por contraste, a melanina dérmica, como na mancha mongólica sacra, não é acentuada pela lâmpada de Wood. Assim, é possível localizar o local da melanina com o uso da lâmpada de Wood. Porém, isso é mais difícil ou impossível em pacientes de pele parda ou negra.
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A lâmpada de Wood é particularmente útil na detecção da fluorescência da dermatofitose na haste capilar (verde a amarela) e do eritrasma (vermelho-coral). Pode-se presumir o diagnóstico de porfiria quando se demonstra a presença de fluorescência vermelho-rosada no exame da urina com lâmpada de Wood; a adição de ácido clorídrico diluído intensifica a fluorescência.
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A diascopia consiste na pressão firme de uma lâmina de microscópio ou de uma espátula de vidro sobre a lesão cutânea. O examinador encontrará valor nesse procedimento particularmente para determinar se a cor vermelha de uma mácula ou de uma pápula é produzida por dilatação capilar (eritema) ou por extravasamento de sangue (púrpura), já que, nesta última, a lesão não empalidece com a pressão. A diascopia também é útil para detectar o aspecto vítreo marrom-amarelado das pápulas da sarcoidose, da tuberculose cutânea, do linfoma e do granuloma anular.
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Dermatoscopia (também chamada microscopia por epiluminiscência). Uma lupa com iluminação embutida e aumento de 10× a 30× é denominada dermatoscópio, que permite a inspeção não invasiva das camadas mais profundas da epiderme e além. O exame é particularmente útil para distinção entre padrões de crescimento benigno e maligno nas lesões pigmentadas. A dermatoscopia digital é particularmente útil no monitoramento de lesões cutâneas pigmentadas, uma vez que as imagens são arquivadas eletronicamente e podem ser recuperadas e examinadas em data posterior a fim de permitir comparações quantitativas e qualitativas e detectar alterações ao longo do tempo. A dermatoscopia digital utiliza programas de análise de imagens que proporcionam (1) medições objetivas das alterações; (2) arquivamento e recuperação rápidos e transmissão das imagens a especialistas para discussão complementar (teledermatologia); e (3) extração de características morfológicas para análise numérica. A dermatoscopia e a dermatoscopia digital exigem treinamento específico.
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O sinal de Darier é “positivo” quando uma lesão macular ou ligeiramente papular, de cor castanha, da urticária pigmentosa (mastocitose) se torna uma lesão urticariforme palpável após ter sido vigorosamente friccionada com um instrumento como a ponta romba de uma caneta. A lesão urticariforme pode demorar de 5 a 10 minutos para surgir.
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O sinal de Auspitz é “positivo” quando a fricção ou a curetagem suave de uma lesão descamativa revela pontos de sangramento dentro da lesão. O sinal sugere psoríase, mas sem especificidade.
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O fenômeno de Nikolsky é positivo quando a epiderme se desprende da derme quando se aplica uma pressão lateral rente à pele com um dedo, resultando em erosão. Trata-se de um sinal diagnóstico importante nos distúrbios acantolíticos, como pênfigo ou síndrome da pele escaldada estafilocócica (SPEE), ou outros distúrbios bolhosos ou com necrose da epiderme, como a necrólise epidérmica tóxica.
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O teste de contato é utilizado para comprovar e validar o diagnóstico de alergia de contato e identificar o agente causador. As substâncias a serem testadas são aplicadas na pele em recipientes rasos (contensores), afixados com esparadrapo e deixados no local por 24 a 48 horas. A hipersensibilidade de contato se apresentará na forma de reação com pápulas e vesículas por ocasião da leitura do teste em 48 a 72 horas. Trata-se de um meio ímpar de reprodução in vivo da doença em pequena escala, uma vez que a sensibilidade afeta toda a pele e, portanto, pode ser desencadeada em qualquer local. O teste de contato é mais fácil e seguro do que o “teste de uso” com um suposto alérgeno que, para fins de testagem, é aplicado em baixas concentrações a pequenas áreas de pele por curto espaço de tempo (ver Seção 2).
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O fototeste de contato é a combinação de teste de contato com irradiação UV sobre o local testado, e é utilizado para comprovar fotoalergia (ver Seção 10).
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O teste com puntura é utilizado para comprovar alergia de tipo I. Uma gota de solução contendo baixa concentração do alérgeno é aplicada sobre a pele, que é perfurada por meio dessa gota com uma agulha. A perfuração não deve ir além da papila dérmica. A reação é dita positiva com o aparecimento de uma lesão urticariforme em 20 minutos. O paciente deve ser mantido sob observação como precaução caso haja anafilaxia.
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O acetobranqueamento facilita a detecção de verrugas penianas e da vulva subclínicas. Uma gaze saturada com ácido acético a 5% (ou vinagre branco) é colocada em volta da glande do pênis ou no colo do útero e ânus. Após 5 a 10 minutos, inspeciona-se o pênis ou a vulva com lente de aumento de 10×. As verrugas aparecem como pequenas pápulas brancas.
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Exame microscópico de escamas, crostas, soro e pelos
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As lesões suspeitas de infecção bacteriana ou fúngica (Candida albicans) devem ser examinadas com esfregaço corado por Gram e culturas de exsudatos e amostras de tecido. Úlceras e nódulos requerem biópsia com bisturi, com a qual se obtém uma cunha de tecido que contenha as três camadas de pele; a amostra é dividida ao meio, sendo uma parte para exame histopatológico e a outra para cultura. A amostra é mantida em recipiente estéril e cultivada para detecção de bactérias (incluindo micobactérias típicas e atípicas) e fungos.
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Deve-se realizar exame microscópico do teto das vesículas ou das escamas (preferencialmente das bordas que estão avançando) ou dos pelos nas dermatofitoses, buscando-se por micélio. O tecido deve ser clareado com KOH a 10 a 30% e suavemente aquecido. Hifas e esporos aparecerão por sua birrefringência (Fig. 26–25). Devem ser realizadas culturas para fungo em meio de Sabouraud (ver Seção 26).
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O exame microscópico das células obtidas na base das vesículas (preparação de Tzanck) pode revelar a presença de células acantolíticas nas doenças acantolíticas (p. ex., pênfigo ou SPEE), ou de células epiteliais gigantes e células gigantes multinucleadas (contendo 10 a 12 núcleos) no herpes simples, no herpes-zóster e na varicela. Com o material obtido na base da vesícula por meio de curetagem suave com bisturi, prepara-se um esfregaço na lâmina do microscópio, corado com Giemsa, Wright ou azul de metileno, a ser examinado para determinar se há células gigantes ou acantolíticas, que são diagnósticas (Fig. 27–32). Além disso, há indicação para solicitar cultura, testes de imunofluorescência ou reação em cadeia da polimerase para herpes.
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Diagnóstico laboratorial de escabiose. O diagnóstico é feito com a identificação do ácaro ou de seus ovos ou fezes em raspados de pele removidos das pápulas ou túneis (ver Seção 28). Com o auxílio de uma lâmina de bisturi estéril sobre a qual se tenha colocado uma gota de óleo mineral estéril, aplica-se o óleo sobre a superfície do túnel ou da pápula. A seguir, pápula ou escavação devem ser vigorosamente raspados para que seja removida toda a cobertura da pápula; surgirão pequenas manchas de sangue no óleo. Transferir o óleo para uma lâmina de microscópio e proceder ao exame buscando por ácaros, ovos e fezes. Os ácaros têm 0,2 a 0,4 mm de tamanho e quatro pares de patas (ver Fig. 28–16).
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A biópsia de pele é uma das técnicas diagnósticas mais simples e satisfatórias considerando-se a acessibilidade da pele e a variedade de técnicas para exame da amostra retirada (p. ex., histopatologia, imunopatologia, reação em cadeia da polimerase e microscopia eletrônica).
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A escolha do local de biópsia é feita com base principalmente no estágio da erupção, sendo que as lesões iniciais geralmente são mais características; isso é especialmente importante nas erupções vesicobolhosas (p. ex., pênfigo e herpes simples), nas quais as lesões não devem ter mais de 24 horas. Contudo, lesões mais antigas (2 a 6 semanas) são mais características no lúpus eritematoso discoide.
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Uma técnica comum para biópsia diagnóstica é o uso do punch de 3 a 4 mm, uma pequena lâmina tubular semelhante a um saca-rolha, que, por meio de movimentos rotatórios realizados entre o polegar e o indicador, corta atravessando epiderme, derme e tecido subcutâneo; a base é seccionada com tesoura. Se houver indicação de imunofluorescência (p. ex., nas doenças bolhosas ou no lúpus eritematoso), há necessidade de um meio específico para transporte ao laboratório.
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No caso de nódulos, deve-se remover uma grande cunha por meio de excisão, incluindo tecido subcutâneo. Além disso, quando indicado, as amostras devem ser seccionadas ao meio, metade para exame histológico e metade enviada em recipiente estéril a fim de serem realizadas culturas para bactérias e fungos, ou em meios especiais de fixação para cultura, em célula ou, ainda, material congelado para exame imunopatológico.
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As amostras para microscopia óptica devem ser imediatamente fixadas em formalina tamponada neutra. Um resumo breve, mas detalhado, da história clínica com descrição das lesões deve acompanhar a amostra. A biópsia está indicada em todas as suspeitas de neoplasia, todos os distúrbios bolhosos com uso simultâneo de imunofluorescência e em todos os distúrbios dermatológicos em que não tenha sido possível chegar a um diagnóstico específico apenas com o exame clínico.