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Cirurgia e infecção infelizmente estão relacionadas de maneira íntima. Para o propósito deste capítulo, será feita a diferenciação entre infecções resultantes de cirurgia (infecções de sítio cirúrgico), e infecções resultantes de outros processos patológicos, em que há necessidade de tratamento cirúrgico. As incisões cirúrgicas envolvem rompimento da pele e de barreiras imunes, podendo ser agravadas pela infecção. O termo “infecção da ferida operatória” foi substituído pelo termo mais preciso “infecção do sítio cirúrgico” (ISC), com o objetivo de enfatizar que a infecção pode ter qualquer localização em qualquer área acessada por cirurgia (e não exclusivamente em nível cutâneo), bem como para diferenciar entre esse tipo de infecção e a “infecção de ferida traumática”.
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Em oposição à ISC, o termo “infecção cirúrgica” é utilizado para indicar infecções que tendem a ser não responsivas a tratamentos médicos e antimicrobianos, requerendo intervenção ou tratamento cirúrgico. Entre os exemplos comuns estão abscessos, empiema, infecções intra-abdominais, infecções de tecidos moles e pele necrosada. A tomada de decisão cirúrgica envolve, em seu cerne, conhecimento e experiência para determinar o momento oportuno para a cirurgia. Também implica o equilíbrio certo entre a cirurgia e outras terapias adjuvantes, como terapia antimicrobiana, medidas de reanimação e otimização nutricional, a fim de proporcionar ao paciente as melhores chances de cura da infecção com os melhores resultados gerais.
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O desenvolvimento de uma infecção cirúrgica envolve uma estreita interface entre três elementos:
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Hospedeiro suscetível;
Agente infeccioso;
Meio ou ambiente favorável (Fig. 8–1).
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O grau de contribuição de cada um desses três fatores para a eventual ocorrência de infecção depende do paciente individualmente, bem como da natureza específica e do sítio de infecção. Se uma determinada inoculação de bactérias resultará ou não em infecção estabelecida, dependerá da virulência bacteriana, da força das respostas inflamatórias e da imunidade do hospedeiro (p. ex., quimiotaxia, fagocitose, ativação de linfócitos B e T), e da quantidade de perfusão sanguínea e tensão de oxigênio no meio em que a inoculação se instalou.
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A. Hospedeiro suscetível
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Muitas infecções cirúrgicas ocorrem em pacientes que não evidenciam diminuição das defesas imunitárias. Entretanto, com os principais avanços ocorridos na medicina e nos serviços de assistência médica ao longo do último século, mais pacientes imunocomprometidos (p. ex., transplantados, infectados por vírus da imunodeficiência humana [HIV, do inglês human immunodeficiency virus], diabéticos) e outros apresentam infecções com necessidade de tratamento cirúrgico ou ISCs após intervenções cirúrgicas. A Tabela 8–1 delineia uma lista de condições relacionadas ao paciente associadas com imunidade diminuída e potencial predisposição a infecções cirúrgicas. Os mecanismos pelos quais as condições listadas afetam a imunidade ...