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Se alguém pedisse uma frase que definisse o tema deste texto sobre genética médica, ela poderia ser “a cascata de consequências”. Esta é uma grande mudança em relação à visão simples de que um gene confere um traço ou característica. As características podem ser aparência, comportamento ou química do corpo. Durante grande parte da história recente, e, certamente em discussões comuns, imagina-se que um gene tem um efeito simples e direto sobre uma característica. Por exemplo, pode-se dizer que o albinismo é causado por um gene “a” (Fig. 1–1). Embora essa visão não esteja errada, a realidade é ao mesmo tempo mais complexa e mais interessante. Existe, na verdade, uma interação complexa entre genes, hormônios, enzimas, receptores de membrana, redes neuronais, e assim por diante, que cria um labirinto de conexões que determinam nossas rotas individuais de funcionamento e de desenvolvimento. Muitas dessas vias e interações são compartilhadas até mesmo por animais distantemente relacionados. Existe tanto unidade como diversidade na genética da vida.
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PARTE 1: CONHECIMENTO E INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS
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Concepção. Desenvolvimento. Nascimento. Crescimento. Maturidade. Envelhecimento. Um padrão familiar. O papel de um médico pode ter iniciado meses antes do nascimento, durante a assistência pré-natal à mãe ou pode se concentrar décadas mais tarde quando o paciente é idoso. Mas a enciclopédia genética a partir da qual o paciente está sendo desenhado foi escrita na fertilização e será expressa progressivamente desde o embrião até a velhice. O ácido desoxirribonucleico (DNA) codifica proteínas e vários tipos de ácidos ribonucleicos (RNA) produzidos nos diversos tipos celulares do corpo. Ele pode ditar muito sobre as habilidades e limitações físicas de um indivíduo. Mas ele não é uma fonte estática de informações. Ao longo da vida, ele é modificado por mutações e por processos que reduzem ou bloqueiam o uso de várias sequências gênicas. Além disso, fatores ambientais podem influenciar em processos epigenéticos, que são as interações químicas subsequentes a uma ação gênica inicial que têm efeitos importantes tanto no início quanto no fim da vida.
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Com a provável exceção de gêmeos idênticos, cada um de nós começa com um genótipo único que define nossa bioquímica e forma individuais. Reconhecemos essa singularidade em nós mesmos. Tomamos a individualidade por certo. Agora, como médico, considere esta perspectiva em um paciente. Claramente, entender as consequências fisiológicas de um tratamento é crítico para o seu resultado. Porém, os pacientes vêm de uma população humana diversa. Nem todos reagem da mesma forma a determinado fármaco. Doses efetivas de um medicamento prescrito podem ter pouco efeito em alguns e ...