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CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
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A fibrose cística (FC) é uma exocrinopatia autossômica recessiva que afeta diversos tecidos epiteliais. O produto gênico responsável pela FC (regulador de condutância transmembrana da fibrose cística [CFTR]) funciona como um canal iônico nas membranas plasmáticas apicais (luminais) das células epiteliais e regula o volume e a composição da secreção exócrina. Um entendimento cada vez mais sofisticado da genética molecular e da bioquímica da proteína de membrana CFTR tem facilitado a descoberta de fármacos para a FC, com diversos novos agentes recentemente aprovados ou avançando na fase de testes clínicos.
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Manifestações respiratórias
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A principal causa de morbidade e mortalidade associada à FC é atribuída ao comprometimento respiratório, caracterizado por copiosas secreções pulmonares hiperviscosas e aderentes que causam obstrução das vias aéreas de pequeno e médio calibres. As secreções das vias aéreas na FC são excessivamente difíceis de ser eliminadas, e uma flora bacteriana complexa que inclui Staphylococcus aureus, Haemophilus influenzae e Pseudomonas aeruginosa (entre outros patógenos) é cultivada rotineiramente a partir do escarro na FC. A análise do microbioma identificou centenas de outras espécies de bactérias em pulmões com FC, embora sua relação com a disfunção pulmonar ainda não esteja determinada. A inflamação pulmonar massiva no ambiente de muco espesso e a infecção bacteriana crônica levam à lesão do tecido adjacente, agravando ainda mais o declínio respiratório. Microrganismos como P. aeruginosa apresentam forma estereotípica de patogênese; um evento-sentinela e de colonização precoce em geral projeta uma infecção pulmonar prolongada pela mesma cepa genética. Durante um período de muitos anos, P. aeruginosa evoluiu nos pulmões com FC para adotar um fenótipo mucoide (atribuído à liberação de exoproduto alginato) que confere vantagem seletiva ao patógeno e prognóstico ruim para o hospedeiro. As abordagens para erradicar a P. aeruginosa no início da evolução da doença foram bem-sucedidas, e acredita-se que melhorem significativamente o prognóstico se mantidas.
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O nome completo da doença, fibrose cística do pâncreas, refere-se à profunda destruição tecidual do pâncreas exógeno, com cicatrizes fibróticas e/ou substituição de gordura, proliferação de cisto, perda de tecido acinar e ablação da arquitetura normal do pâncreas. Assim como acontece no pulmão, as secreções exócrinas espessas (algumas vezes chamadas de concreções) causam obstrução nos ductos pancreáticos e comprometem a produção e o fluxo de enzimas digestivas para o duodeno. As sequelas da insuficiência pancreática exócrina incluem má absorção crônica, déficit de crescimento, insuficiência de vitaminas lipossolúveis, níveis elevados de tripsinogênio imunorreativo no soro (um teste diagnóstico usado no rastreamento de recém-nascidos) e perda de massa celular das ilhotas pancreáticas. O diabetes melito relacionado com a FC é uma manifestação que ocorre em mais de 30% dos adultos com a doença e provavelmente é de natureza multifatorial (atribuído a destruição progressiva do pâncreas endócrino, resistência à insulina devido aos hormônios do estresse e outros fatores).
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Outros sistemas orgânicos comprometidos
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